Quando a crise bate à porta - Aprendendo com Neemias


Texto de reflexão
"E disseram-me: Os restantes, que não foram levados para o cativeiro, lá na província estão em grande miséria e desprezo, e o muro de Jerusalém, fendido, e as suas portas, queimadas a fogo" (Ne 1.3).
Depois da morte de Esdras, um judeu dentre os escravos, de nome Neemias, que era mordomo do rei Xerxes, passeando um dia fora da cidade de Susã, capital da Pérsia, viu uns estrangeiros que vinham de províncias distantes e percebeu que eles falavam a língua hebraica. Aproximou-se deles para perguntar de onde vinham e soube que eram da Judéia. Perguntou-lhes como ia aquele país, particularmente Jerusalém. Responderam-lhe que tudo estava em muito mau estado, que as muralhas da cidade estavam em ruínas e que não havia males que os povos vizinhos não lhes causassem, pois devastavam continuamente os campos, levavam prisioneiros os habitantes da cidade, e freqüentemente encontravam-se cadáveres pelas estradas.

Neemias ficou tão desconsolado pela aflição do povo de seu país que não pôde reter as lágrimas. E, elevando os olhos ao céu, disse a DEUS: "Até quando, Senhor, permitireis que a vossa nação seja perseguida e torturada por tantos males? Até quando permitireis que ela seja presa de vossos inimigos?" O sofrimento fez-lhe esquecer até o momento em que se encontrava, pois vieram dizer-lhe que o rei estava prestes a se pôr à mesa, e ele correu para servi-lo.

A angústia de Neemias pela desgraça de Jerusalém – Sua oração

Quando DEUS tem uma obra para realizar, nunca lhe faltarão instrumentos para realizá-la. 
Neemias era o copeiro do rei da Pérsia, vivia comodamente e com honra, porém não esquecera de que era israelita e que seus irmãos estavam angustiados. Estava disposto a utilizar seus bons ofícios para ajudá-los em tudo quanto pudesse; e para saber como fazê-lo melhor, indagou a esse respeito.
A primeira apelação de Neemias foi direcionada à DEUS, para ter a plena confiança em sua petição ao rei. 

Nossas melhores argumentos em oração são tomadas da promessa de DEUS, a palavra pela qual nos dá esperanças. Devem usar de todos os métodos, mas a oração eficaz do justo pode muito em seus efeitos
A comunhão com DEUS nos preparará para tratar com os homens. 
Quando depositamos nossas preocupações em DEUS, nossa mente fica livre; sentimos satisfação e temos compostura, assim, ao longo do caminho, as dificuldades se desvanecem . Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam à Deus. Ele tem o poder de deter as coisas facilmente, e se for bom para nós, Ele nos faz progredir facilmente. (Neemias – COMENTÁRIO BÍBLICO DO ANTIGO TESTAMENTO, VOL 1, Gênesis a Neemias - Matthew Henry).

O Período Persa (538-142 a.E.C.)

Em conseqüência de um decreto do Rei Ciro, da Pérsia, que conquistou o império babilônico, cerca de 50.000 judeus empreenderam o Primeiro Retorno à Terra de Israel, sob a liderança de Zorobabel, da dinastia de David. Menos de um século mais tarde, o Segundo Retorno foi liderado por Esdras, o Escriba. Durante os quatro séculos seguintes, os judeus viveram sob diferentes graus de autonomia sob o domínio persa (538-333 a.E.C.) e helenístico - ptolemaico e selêucida (332-142 a.E.C.).
A repatriação dos judeus, sob a inspirada liderança de Esdras, a construção do Segundo Templo no sítio onde se erguera o Primeiro, a fortificação das muralhas de Jerusalém e o estabelecimento da Knesset Haguedolá (a Grande Assembléia), o supremo órgão religioso e judicial do povo judeu, marcaram o início do segundo estado judeu (período do Segundo Templo). Dentro do âmbito do Império Persa, a Judéia era uma nação cujo centro era Jerusalém, sendo a liderança confiada ao Sumo Sacerdote e ao conselho dos Anciãos. (Walter Sousa Borges - História do povo judeu)

mapa do império Persa no tempos de Neemias
Mapas Bíblicos

 Os persas, povo do Irã, constituíram o Império Persa que abrangia todo o Oriente Próximo. Começou com Ciro, em 539 a.C., e foi até 333 a.C.

● Ciro (559-521) conquista a Babilônia e a Média. Em 538 a.C. promulgou um edito em favor dos judeus exilados na Babilônia.
● Dario I (522-485 a.C.) estendeu o império até às Índias.
● Xerxes I (485-465 a.C.) destrói Babilônia.
● Dario III (337-333 a.C.), em cujo reinado ocorre a queda do Império Persa sob o comando de Alexandre, o Grande.

No primeiro ano do reinado de Ciro, rei dos persas, setenta anos depois que as tribos de Judá e de Benjamim foram levadas escravas para a Babilônia, DEUS, tocado de compaixão pelo sofrimento delas, realizou o que havia predito pelo profeta Jeremias, antes mesmo da ruína de Jerusalém: que, passados setenta anos em dura escravidão, sob Nabucodonosor e seus descendentes, voltaríamos ao nosso país, reconstruiríamos o Templo e desfrutaríamos a nossa primeira felicidade. Assim, pôs Ele no coração de Ciro escrever uma carta e enviá-la por toda a Ásia. 
Eis o que declara o rei Ciro: 
"Cremos que o DEUS Todo-poderoso, que nos constituiu rei de toda a terra é o DEUS que o povo de Israel adora, pois Ele predisse por meio de seus profetas que nós traríamos o nome que trazemos e reconstruiríamos o Templo em Jerusalém, na Judéia, consagrado à sua honra".
Esse soberano falava assim porque lera nas profecias de Isaías, escritas duzentos e dez anos antes que ele tivesse nascido e cento e quarenta anos antes da destruição do Templo, que DEUS lhe tinha feito saber que constituiria a Ciro rei sobre várias nações e inspirar-lhe-ia a resolução de fazer o povo voltar a Jerusalém para reconstruir o Templo. Essa profecia causou-lhe tal admiração que, desejando realizá-la, mandou reunir na Babilônia os principais dos judeus e anunciou que lhes permitia voltar ao seu país e reconstruir a cidade de Jerusalém e o Templo, que eles não deveriam duvidar de que DEUS os auxiliaria nesse desígnio e que escreveria aos príncipes e governadores de suas províncias vizinhas da Judeia para que lhes fornecessem o ouro e a prata de que iriam precisar e as vítimas para os sacrifícios.
Depois desse favor, os chefes das tribos de Judá e de Benjamim dirigiram-se imediatamente a Jerusalém com sacerdotes e levitas. Os que não quiseram deixar os seus bens ficaram na Babilônia. Chegaram depois os nobres aos quais o rei havia escrito e contribuíram com ouro e prata. Alguns deram-lhe animais, como cavalos. Outros, que haviam feito votos, ofereciam sacrifícios solenes para cumpri-los, tal como fariam se tivessem de começar a construir a cidade e realizar pela primeira vez as cerimônias que nossos pais observavam.
Ciro restituiu nesse mesmo tempo os vasos sagrados tomados do Templo no reinado de Nabucodonosor e que haviam sido levados para a Babilônia. Encarregou disso Mitredate, seu tesoureiro-mor, com ordem de confiá-los aos cuidados de Sesbazar, para que os guardasse até que o Templo fosse reconstruído e os entregasse então aos sacerdotes e aos principais dos judeus, para que fossem recolocados no Templo.

Escreveu também esta carta aos governadores da Síria: "O rei Ciro, a Sisina (Ou Tatenai) e a Sarabazam, saudação. Nós permitimos a todos os judeus que moram em nosso território e que quiserem voltar ao seu país que para lá se retirem com toda liberdade e reconstruam a cidade de Jerusalém e o Templo de DEUS. Enviamos Zorobabel, seu príncipe, e Mitredate, nosso tesoureiro-mor, para que lhe lancem os alicerces e o elevem à altura de sessenta côvados, com a mesma largura, e três ordens de pedras polidas e uma da madeira que existe naquela província. Queremos também que lá se erga um altar para se oferecerem sacrifícios a DEUS e entendemos que todas as despesas sejam feitas por nossa conta. Restituímos também, por meio de Mitredate e de Zorobabel, os vasos sagrados que o rei Nabucodonosor retirou do Templo, para que lá sejam recolocados. Seu número é de cinqüenta bacias de ouro e quatrocentas de prata; cinqüenta vasos de ouro e quatrocentos de prata; cinqüenta baldes de ouro e quinhentos de prata; trinta grandes pratos de ouro e trezentos de prata; trinta grandes taças de ouro e duas mil e quatrocentas de prata; e, além disso, mil outros grandes vasos. 

Concedemos ainda aos judeus as mesmas rendas de que seus predecessores desfrutavam e lhes damos como compensação animais, vinho e óleo, duzentas e cinco mil e quinhentas medidas de trigo, que queremos que sejam tomadas nas terras de Samaria. Os sacerdotes oferecerão a DEUS todas as vítimas em Jerusalém, segundo a lei de Moisés, e rogarão pela nossa prosperidade, pela de nossos descendentes e pelo império dos persas. E, se alguns forem tão obstinados que não queiram obedecer às nossas ordens, queremos que sejam crucificados e que os seus bens sejam confiscados em nosso proveito". Era o que diziam as cartas de Ciro. O número de judeus que voltaram a Jerusalém foi de quarenta e dois mil quatrocentos e sessenta e dois.

Capítulo 2

Os judeus começam a reconstruir Jerusalém e o Templo. Depois da morte de Ciro, os samaritanos e as outras nações vizinhas escrevem ao rei Cambises, seu filho, para que mandasse suspender o trabalho.

437. Esdras 4. Depois da ordem expedida por Ciro, os judeus lançaram os alicerces do Templo e trabalharam com ardor para reconstruí-lo. As nações vizinhas, particularmente os chuteenses, que Salmaneser, rei da Assíria, fizera vir da Pérsia e da Média para povoar Samaria depois de haver levado os israelitas, pediram aos governadores e aos que tinham o encargo da direção dessa obra que ordenassem aos israelitas cessar os trabalhos e suspender a reconstrução da cidade. Esses indivíduos, subornados por elas, venderam-lhes a negligência com a qual executaram a sua comissão, mas Ciro não lhes deu atenção porque estava ocupado com a guerra contra os massagetas, na qual veio a morrer.
Cambises (Ou Artaxerxes), seu filho, sucedeu-o, e logo que subiu ao trono os sírios, os fenícios, os amonitas, os moabitas e os samaritanos escreveram-lhe esta carta: "Majestade, Reum, vosso chanceler, Sinsai, vosso secretário, e todos os outros oficiais da Síria e da Fenícia, vossos servidores. Nós nos julgamos obrigados a vos advertir de que os judeus, que haviam sido transferidos para a Babilônia, retornaram a este país. Eles reconstroem a sua cidade, que foi destruída por causa de sua revolta. Eles ergueram novamente as suas muralhas, estabeleceram os seus mercados, e também reconstroem o Templo. Se isso lhes for mesmo permitido, majestade, e eles continuarem os trabalhos, logo que os terminarem certamente hão de se recusar a pagar o tributo a vossa majestade e a fazer o que vossa majestade lhes determinar, porque estão sempre prontos a opor-se aos reis, pela sua inclinação a querer mandar e nunca obedecer. Por isso, vendo com que entusiasmo eles trabalham na reconstrução do Templo, julgamos nosso dever avisar vossa majestade que, se vos aprouver ler os registros dos reis vossos predecessores, vereis que os judeus são naturalmente inimigos dos soberanos e que por esse motivo a sua cidade foi destruída. A isso podemos acrescentar que, se vossa majestade permitir que eles a reconstruam e a cerquem de novo com muralhas, eles vos fecharão a passagem da Fenícia e da Baixa Síria".

Capítulo 3

Cambises, rei dos persas, proíbe aos judeus continuar a reconstruir o Templo e Jerusalém. Ele morre no seu regresso do Egito. Os magos governam o reino durante um ano. Dario é constituído rei.

438. Essa carta deixou Cambises muito irritado. E, sendo naturalmente mau, respondeu: "O rei Cambises, a Reum, nosso chanceler, a Sinsai, nosso secretário, a Belcem e aos outros habitantes de Samaria e da Fenícia, saudação. Depois de receber a vossa carta, mandamos consultar o registro dos reis nossos predecessores e lá encontramos que a cidade de Jerusalém foi sempre, desde todos os tempos, inimiga dos reis, que os seus habitantes são sediciosos, sempre prontos a se revoltar, e que ela foi governada por príncipes poderosos e muito empreendedores, os quais exigiram à força grandes tributos da Síria e da Fenícia. Para impedir que o atrevimento desse povo possa levá-lo a novas rebeliões, proibimos que eles continuem a reconstruir a cidade".

Mal receberam essa carta, Reum, Sinsai e os outros rumaram para Jerusalém com um grande séquito e proibiram aos judeus reconstruir a cidade e o Templo. Assim, o trabalho ficou interrompido durante nove anos, até o segundo ano do reinado de Dario, rei da Pérsia. Cambises reinou apenas dois anos e morreu em Damasco, no seu regresso do Egito, que ele havia subjugado. Os magos, depois de sua morte, governaram o reino durante um ano, com poder absoluto. Mas os chefes das sete principais famílias da Pérsia os depuseram e de comum acordo constituíram Dario, filho de Histaspe, rei.

Capítulo 4

Dario, rei da Pérsia, propõe a Zorobabel, príncipe dos judeus, e a dois outros, questões para serem resolvidas. Zorobabel resolve-as e recebe como recompensa: a restauração de Jerusalém e do Templo.
Um grande número de judeus volta em seguida para Jerusalém sob o comando de Zorobabel e trabalha nessa obra. Os samaritanos e outros povos pedem a Dario que a impeça. Mas esse príncipe faz justamente o contrário.

439. Esdras 5 e 6. Dario era ainda um simples cidadão, mas fizera a DEUS um voto: se um dia subisse ao trono, restituiria ao Templo em Jerusalém tudo o que estava ainda na Babilônia dos vasos sagrados. Quando ele foi proclamado rei, aconteceu que Zorobabel, príncipe dos judeus, que era seu velho amigo, estava próximo dele. E assim, confiou a ele e a dois outros dos principais a direção de sua casa e de tudo o que mais de perto se referia à sua pessoa.

O grande rei, no primeiro ano de seu reinado, ofereceu um suntuoso banquete aos seus principais auxiliares, aos maiorais dos medos e dos persas e aos governadores das cento e vinte e sete províncias sobre as quais estendia o seu domínio, que ia desde as índias até a Etiópia. Terminado o banquete, todos se retiraram, e Dario dormiu um pouco, mas logo acordou.

Observação.:Veja no livro algumas explicações para a admiração do rei à pessoa de Zorobabel.

O rei então ordenou que se escrevesse aos governadores de suas províncias, para que o ajudassem a reconstruir o Templo, bem como aos que o acompanhassem na viagem a Jerusalém. Deu também aos magistrados da Síria e da Fenícia ordem para que mandassem cortar cedros sobre o monte Líbano e os fizessem levar a Jerusalém e para que ajudassem os que iam reconstruir a cidade.

Essas mesmas cartas diziam que o rei desejava que todos os judeus que fossem a Jerusalém de volta do cativeiro fossem libertados, proibiam a todos os seus oficiais fazer-lhes imposições ou obrigá-los a pagar tributo e ordenavam que lhes fosse permitido cultivar todas as terras aproveitáveis. O rei ordenava aos idumeus, aos samaritanos e aos da Baixa Síria que lhes entregassem tudo o que os seus pais haviam possuído e contribuíssem com cinqüenta talentos para a construção do Templo. 

Permitia também aos judeus oferecer a DEUS os mesmos sacrifícios e observar as mesmas cerimônias que seus antepassados. Podiam ainda tomar do fundo dos bens reais o que fosse necessário para as vestes dos sumos sacerdotees e dos outros sacerdotes e para os instrumentos de música com os quais os levitas cantavam louvores a DEUS, e a cada ano se daria aos guardas do Templo e da cidade terras e o dinheiro necessário à sua manutenção. Por fim, Dario confirmou tudo o que Ciro havia determinado, tanto para a restauração da nação judaica quanto para a restituição dos vasos sagrados.

440. Depois que Zorobabel obteve do soberano tudo o que podia desejar, a primeira coisa que fez ao sair do palácio foi elevar os olhos ao céu e agradecer a DEUS o favor que Ele lhe fizera, ou seja, torná-lo perante o príncipe o mais hábil e inteligente de todos. Confessou que devia toda a sua felicidade ao auxílio dEle e pediu que Ele continuasse a ajudá-lo. Quando chegou à Babilônia e deu essa grata notícia aos de sua nação, eles também deram graças a DEUS por Ele haver permitido que se restabelecessem em sua pátria e passaram sete dias inteiros em festas de regozijo. 

As famílias escolheram em seguida pessoas de sua tribo para que fossem levadas a Jerusalém e procuraram cavalos e outros animais para carregar as suas mulheres e filhos. Assim uma grande multidão de todas as idades e ambos os sexos, guiadas por aqueles que Dario havia posto à frente, fez toda a caminhada com incrível alegria, ao som de flautas e de timbales.

O temor de aborrecer o leitor e de interromper o fio de minha narração não me deixará mencionar nomes em particular. Contentar-me-ei em dizer o seu número. Havia nas tribos de Judá e de Benjamim, da idade de doze anos para cima, quatro milhões seiscentas e vinte e oito mil pessoas. A multidão era seguida por quatro mil e setenta levitas e quarenta mil setecentos e quarenta e duas mulheres e crianças. Da estirpe dos levitas, havia cento e vinte e oito cantores, cento e dez porteiros e trezentos e vinte e dois que serviam no Santuário. Seiscentos e cinqüenta e dois se diziam israelitas, rrias, sem poder prová-lo, não foram reconhecidos como tais. Quinhentos e vinte e cinco haviam desposado mulheres que eles diziam ser da descendência dos sacerdotes e dos levitas, mas os seus nomes não constavam das genealogias. Sete mil trezentos e trinta e sete escravos caminhavam atrás deles, bem como duzentos e quarenta cantores e cantoras. Havia ainda quatrocentos e trinta e cinco camelos e quinhentos e vinte e cinco cavalos ou outros animais de carga no transporte das bagagens.

Zorobabel, de que falamos há pouco, era filho de Sealtiel, da tribo de Judá e da estirpe de Davi. Ele chefiava essa grande multidão, auxiliado por Jesua, filho de Jozadaque, sumo sacerdote, Mardoqueu e Cerebeu, escolhidos pelas outras duas tribos. Os dois últimos contribuíram, das próprias economias, com cem peças de ouro e cinco mil de prata para as despesas dessa viagem. Os sacerdotes, os levitas e uma parte do povo judeu que estava na Babilônia voltaram para morar novamente em Jerusalém, e os que lá ficaram os acompanharam durante uma parte do caminho e depois retornaram.

441. Sete meses depois, Jesua, sumo sacerdote, e o príncipe Zorobabel enviaram a toda parte convites aos de sua nação, para que se dirigissem a Jerusalém. Eles foram com grande alegria e, depois de construírem um altar no mesmo local onde estivera o primeiro, ofereceram sacrifícios a DEUS segundo o que Moisés havia determinado. As nações vizinhas viram isso com grande desprazer, por causa do ódio que lhe votavam. Os judeus celebraram também nesse mesmo tempo a festa dos Tabernáculos, segundo fora instituída anteriormente: fizeram as oblações e os sacrifícios que se deviam fazer todos os dias, como também os dos sábados, das festas sagradas e das solenidades ordinárias. Os que haviam feito votos cumpriram-nos, oferecendo sacrifícios depois da lua nova do sétimo mês.

Começaram depois a trabalhar na construção do Templo, sem lastimar a despesa necessária para o pagamento e a alimentação dos operários. Os sidônios enviaram, com bastante agrado, grandes vigas de cedro, que haviam cortado nas florestas do monte Líbano e ligado umas às outras, fazendo-as flutuar nas águas do mar até o porto de Jope, como Ciro e Dario haviam determinado.

Depois de no segundo mês do segundo ano lançarem os alicerces do Templo, começaram, no dia primeiro de dezembro, a construir a parte superior. Todos os levitas com vinte anos ou mais, e Jesua, com os seus três filhos e seus irmãos, e Cadmiel, irmão de Judá, filho de Aminadabe, com os seus filhos, que haviam sido encarregados da direção dessa obra, nela trabalharam com tanto empenho e solicitude que a concluíram muito antes do esperado. Então os sacerdotes, revestidos de seus vestes sacerdotais, marcharam ao som de trombetas, enquanto os levitas e os descendentes de Asafe cantavam em louvor a DEUS hinos e salmos compostos pelo rei Davi. 

Os mais antigos do povo, que haviam contemplado a magnificência e a riqueza do primeiro templo, considerando o quanto esse estava longe de igualá-lo e julgando assim a grande diferença entre a sua prosperidade no passado e a presente, sentiram tão profunda dor que não puderam reter as lágrimas e soluços. O povo em geral, porém, ao qual somente o presente podia impressionar, não fazia tal comparação. Estava tão contente que as queixas de uns e os gritos de júbilo de outros impediam que se ouvisse o som das trombetas.

442. Essa notícia chegou até Samaria, e os habitantes dessa cidade vieram indagar o que se passava. Ao saber que os judeus, regressando do cativeiro da Babilônia, haviam reconstruído o Templo, rogaram a Zorobabel, a Jesua, sumo sacerdote, e aos principais das tribos que lhes permitissem contribuir para aquelas despesas, dizendo que adoravam o mesmo DEUS e que não tinham outra religião desde que Salmaneser, rei da Assíria, os trouxera da Chutéia e da Média para morar em Samaria. Todos de comum acordo responderam que não podiam fazer o que desejavam, porque Ciro e Dario haviam permitido que só eles, os judeus, reconstruíssem o Templo, mas que isso não impediria que eles e todos os de sua nação viessem adorar a DEUS, o que podiam fazer com toda a liberdade.

Os chuteenses (pois é assim que chamamos os samaritanos) ficaram tão ofendidos com essa resposta que persuadiram os sírios e seus governados a empregar, para impedir a construção do Templo, os mesmos meios de que se haviam servido outrora, nos tempos de Ciro e de Cambises, acrescentando que não havia um momento a perder, por causa da pressa com que os judeus trabalhavam naquela obra. Naquele mesmo tempo, Sisina, governador da Síria e da Fenícia, acompanhado por Sarabazam e por alguns outros, veio a Jerusalém e perguntou aos principais dos judeus quem lhes permitira reconstruir o Templo, fazendo-o tão robustecido que mais parecia uma fortaleza, e também cercar toda a cidade com muralhas tão espessas.

Zorobabel e o sumo sacerdote responderam que eram servidores do DEUS Todo-poderoso; que o Templo fora outrora construído em sua honra por um de seus reis, que era um dos mais bem-aventurados príncipes do mundo, ao qual nenhum outro jamais se igualara em sabedoria e em inteligência; que aquele soberbo edifício fora conservado intacto durante vários séculos; que seus antepassados, tendo desgostado a DEUS com os seus pecados, haviam permitido que Nabucodonosor, rei de Babilônia e da Caldéia, tomasse a cidade e a destruísse e incendiasse, bem como ao Templo, depois de retirar dele tudo o que existia de mais precioso, e levasse o povo escravo para a Babilônia; que Ciro, depois rei da Pérsia e da Babilônia, ordenara expressamente, por cartas escritas a esse respeito, que se reconstruísse o Templo e que depois de terminado se levassem para lá os vasos sagrados que haviam sido dele retirados e que os confiara a Zorobabel e a Mitredate, seu tesoureiro-mor; que antes, para apressar a construção do Templo, havia mandado Abazar a Jerusalém, o qual então já lhe lançara os alicerces; que desde então somente as nações inimigas haviam feito esforços para impedir os trabalhos; e que, como prova daquela afirmação, ele precisava apenas escrever ao rei, para que este lhe mostrasse nos registros dos reis precedentes se tudo não se havia passado como estavam dizendo.

Sisina e os que o acompanhavam ficaram satisfeitos com essas razões e não impediram a continuação dos trabalhos, mas indagaram antes da vontade do rei e para isso lhe escreveram. No entanto os judeus temiam que esse príncipe se arrependesse da permissão concedida, porém os profetas Ageu e Zacarias disseram-lhes que nada temessem, nem de Dario nem dos persas, porque estavam informados da vontade de DEUS sobre aquele assunto. Assim, tranqüilizaram-se e continuaram a trabalhar com o mesmo ardor. Os samaritanos, ou chuteenses, não deixaram, por sua vez, de escrever ao rei Dario, contando que os judeus fortificavam a sua cidade e construíam um templo que mais parecia uma fortaleza que um lugar destinado ao culto a DEUS. E, para testemunhar ao rei o quanto aquilo lhe seria prejudicial, mandaram-lhe as cartas do rei Cambises pelas quais ele havia proibido a continuação daquelas obras, pois não as julgava proveitosas para o seu serviço.

Quando Dario recebeu essas cartas e as de Sisina, mandou procurar os registros dos reis. Encontraram um deles no castelo de Ecbátana, na Média, onde estava escrito assim: 
"O rei Ciro ordenou no primeiro ano de seu reinado que se construísse em Jerusalém um templo de sessenta côvados de altura e outros tantos de largura, com três ordens de pedras polidas e uma da madeira que se encontra naquele país; que se edificasse um altar naquele templo; que tudo seria feito às suas expensas; que os vasos sagrados retirados por Nabucodonosor seriam levados para lá; e que Abazar, governador da Síria e da Fenícia, e os oficiais da província tomariam o cuidado de mandar prosseguir a obra sem no entanto ir a Jerusalém, porque os judeus, que eram servidores de DEUS, e seus príncipes deveriam assumir a direção. Seria suficiente ajudá-los com o dinheiro que se obteria dos tributos das províncias e dar-lhes para os seus sacrifícios touros, carneiros, cordeiros, cabritos, farinha, óleo, vinho e todas as outras coisas que os sacerdotes lhes pedissem, a fim de que rogassem pela prosperidade dos reis e pelo império dos persas. E, se alguém se atrevesse a desobedecer a essa ordem, que fosse crucificado e tivesse todos os seus bens confiscados. A isso acrescentou uma imprecação que atingiu a todos os que quisessem impedir a construção do Templo. Ele rogava a DEUS que fizesse desencadear sobre eles a sua justa vingança, para castigá-los por tal impiedade".

Dario, tendo visto os registros de Ciro, escreveu a Sisina e aos seus outros oficiais o que segue: "O rei Dario a Sisina, lugar-tenente-general de nossa cavalaria, a Sarabazam e aos outros governadores, saudação. Mandamo-vos a cópia das ordens do rei Ciro que encontramos nos seus registros e queremos que o que elas contêm seja rigorosamente executado. Adeus!"

Sisina e os outros aos quais era endereçada essa carta, tendo conhecido a intenção do rei, nada esqueceram, no que dependia deles, para executá-la e ajudaram os judeus com todas as suas forças para que pudessem continuar as obras do Templo em Jerusalém.

Com esse auxílio, as obras progrediram e, pelo entusiasmo que as profecias de Ageu e de Zacarias continuavam a dar ao povo, o Templo foi terminado ao fim de sete anos, no nono ano do reinado de Dario e no vigésimo terceiro dia do décimo primeiro mês a que chamamos adar, e os macedônios, distro, os sacerdotes, os levitas e o resto do povo deram graças a DEUS por lhes permitir recuperar a antiga felicidade depois de tão longo cativeiro e por lhes dar o novo Templo. Ofereceram-lhe em sacrifício cem touros, duzentos carneiros, quatrocentos cordeiros e doze bodes pelos pecados das doze tribos. Os levitas escolheram entre eles alguns porteiros, para distribuí-los por todas as portas do Templo, segundo ordenava a lei de Moisés.

A festa dos Pães Ázimos aproximava-se e devia ser celebrada no primeiro mês, a que os macedônios denominam xântico, e nós, nisã. O povo das aldeias e das cidades veio a Jerusalém com as suas mulheres e filhos e, depois de se haverem purificado, ofereceram o cordeiro pascal no décimo quarto dia da lua do mesmo mês, segundo o costume de nossos antepassados. Passaram sete dias em banquetes de regozijo, sem deixar de oferecer a DEUS os holocaustos e de agradecer-lhe por haver tocado o coração do rei, que lhes permitira regressar ao seu país.

Estabeleceram em seguida uma nova forma de governo aristocrático, no qual os sumos sacerdotes tiveram sempre autoridade soberana, até que os hasmoneus chegaram à realeza e assim os judeus tornaram a entrar no governo monárquico, sob o qual tinham vivido durante quinhentos e trinta e dois anos, seis meses e dez dias, desde Saul e Davi até o cativeiro. Antes também haviam sido governados durante mais de quinhentos anos, desde Moisés e Josué, por aqueles aos quais davam o nome de juizes.

No entanto os samaritanos, que além do ódio e da inveja que tinham de nossa nação, não podiam tolerar a obrigação de contribuir com as coisas necessárias para os nossos sacrifícios e além disso se vangloriavam de ser do mesmo país que os persas, não deixavam do mesmo modo de nos fazer todo o mal que podiam. E os governadores da Síria e da Fenícia não perdiam ocasião alguma de secundá-los em seus desígnios. O senado e o povo de Jerusalém, vendo-os tão animados contra si, resolveram enviar Zorobabel e quatro outros dos mais ilustres a Dario para se queixar dos samaritanos.

Logo que esse príncipe escutou os deputados, mandou que lhes dessem cartas endereçadas aos principais oficiais de Samaria, cujas palavras são estas: "O rei Dario a Tangar e Sembabe, que comandam a cavalaria em Samaria, e a Sadrague, Bobelom e outros, que estão encarregados dos nossos negócios nesse país, saudação. Zorobabel, Ananias e Mardoqueu, deputados pelos judeus junto de nós, queixaram-se das dificuldades que lhes moveis na construção do Templo e de que recusais contribuir para os sacrifícios com aquilo que ordenamos. Escrevemo-vos esta carta a fim de que logo que a tenhais recebido não deixeis de cumprir as vossas obrigações e de tomar para esse fim, no nosso tesouro proveniente dos tributos da Samaria, tudo o que os sacerdotes de Jerusalém tiverem necessidade, porque a nossa intenção é que não se deixe de oferecer sacrifícios a DEUS pela nossa prosperidade e pela do império dos persas".

Capítulo 5

Xerxes sucede a Dario, seu pai, no reino da Pérsia. Permite que Esdras, sacerdote, retorne com grande número de judeus a Jerusalém e concede tudo o que ele deseja. Esdras obriga os que haviam desposado mulheres estrangeiras a restituí-las. Antes de sua morte. Neemias obtém de Xerxes licença para reconstruir os muros de Jerusalém e termina essa grande obra.

443. Esdras 7. Xerxes sucedeu a seu pai, Dario, e não foi menos herdeiro de sua piedade para com DEUS que seu antecessor no trono. Nada mudou a respeito do que fora determinado com relação ao culto a DEUS, e Xerxes teve sempre uma grande afeição pelos judeus. Joaquim, filho de jesua, era sumo sacerdote durante o seu reinado, e Esdras era o primeiro e o mais considerável dentre todos os sacerdotes que haviam ficado na Babilônia. Era um homem de bem e muito instruído nas leis de Moisés. Desfrutava grande fama no meio do povo e era muito amado pelo rei.

Assim, quando resolveu voltar a Jerusalém e levar consigo alguns judeus que estavam morando na Babilônia, ele obteve desse príncipe algumas cartas de recomendação endereçadas aos governadores da Síria, nestes termos: "Xerxes, rei dos reis, a Esdras, sacerdote e leitor da lei de DEUS, saudação, julgando que é de nossa bondade permitir a todos os judeus, quer sacerdotes, quer levitas, bem como a outros que desejarem voltar a Jerusalém para lá servir a DEUS, nós, com o conselho de nossos sete auxiliares, concedemos essa graça e vos encarregamos de apresentar ao vosso DEUS o que nós e nossos amigos fizemos voto de lhe oferecer. Damo-vos o poder de levar todo o ouro e toda a prata que os vossos conterrâneos ainda espalhados pelo reino da Babilônia quiserem ofertar a DEUS, a fim de que seja empregado na aquisição de vítimas a serem oferecidas sobre o altar, na confecção de vasos de ouro e de prata para o seu serviço e no que mais vós e vossos irmãos desejarem. Devereis oferecer também ao vosso DEUS os vasos sagrados que vos entregaremos. Damo-vos o poder de fazer, além disso, tudo o que julgardes conveniente e entendemos que o fundo necessário deva ser tirado de nosso tesouro. Para isso, estamos escrevendo ao nosso tesoureiro-mor da Síria e da Fenícia que vos entregue sem demora tudo o que lhe pedirdes. E, para que DEUS seja favorável a nós e à nossa posteridade, queremos que lhe sejam oferecidas, por nós, cem medidas de trigo, de conformidade com a Lei. Proibimos a todos os nossos oficiais exigir algo dos sacerdotes, dos levitas, dos cantores, dos porteiros e dos outros que servem no Templo de DEUS ou impor-Ihes tributos e obrigações. Quanto a vós, Esdras, usareis da prudência e da sabedoria que DEUS vos concedeu para estabelecer na Síria e na Fenícia juizes que administrem a justiça, e que os já instruídos nas vossas leis ensinem aos que ainda as ignoram e castiguem com multas ou mesmo com a morte os que não temerem violar os vossos mandamentos e os nossos".

Esdras, ao receber essa carta, adorou a DEUS e deu-lhe imensas graças, pois só podia atribuir ao seu auxílio demonstrações de bondade tão extraordinárias da parte do rei. Reuniu em seguida todos os judeus que estavam na Babilônia, leu-lhes as cartas e, conservando o original, enviou cópias aos judeus que estavam na Média. Pode-se imaginar a alegria que eles sentiram por saber da piedade do rei para com DEUS e de seu afeto por Esdras. Muitos decidiram dirigir-se imediatamente à Babilônia com o que possuíam de bens a fim de irem com Esdras a Jerusalém. Mas o resto dos israelitas não quis abandonar esse país. Assim, somente as tribos de Judá e de Benjamim voltaram a Jerusalém, e estão ainda hoje sujeitas, numa parte da Ásia e da Europa, ao domínio dos romanos. As outras dez tribos permaneceram além do Eufrates, e é incrível o quanto se multiplicaram.

Dentre os que se dirigiram em grande número a Esdras, havia muitos sacerdotes, levitas, porteiros, cantores e outros consagrados ao serviço de DEUS. Ele os reuniu ao longo do Eufrates e, depois de jejuarem durante três dias e orarem a DEUS pedindo proteção na viagem, puseram-se a caminho no décimo segundo dia do primeiro mês do sétimo ano do reinado de Xerxes, sem que Esdras quisesse receber a escolta da cavalaria, oferecida pelo príncipe, declarando que confiava no auxílio de DEUS, que cuidava dele e de seu povo.

Chegaram no quinto mês do mesmo ano a Jerusalém. Esdras entregou logo aos que tinham a guarda dos tesouros do Templo e que eram da descendência dos sacerdotes o depósito sagrado que o rei, os amigos dele e os judeus que moravam na Babilônia lhe haviam confiado e que consistia de seiscentos e cinqüenta talentos de prata, vasos de prata no valor de cem talentos, vasos de ouro no valor de vinte talentos e vasos de cobre, mais preciosos que o ouro, no peso de doze talentos.

Em seguida, Esdras ofereceu a DEUS em holocausto, como a Lei ordenava, doze touros para a salvação do povo e, pelos pecados, setenta e dois carneiros e cordeiros e doze bodes. Na Síria e na Fenícia, entregou aos governadores e oficiais do rei a carta que o soberano lhes escrevera. E, como não podiam deixar de obedecer, prestaram grandes honras à nação judaica e nos ajudaram em nossas necessidades. Deve-se a Esdras a honra dessa transmigração. E ele não somente a idealizou, como também não tenho dúvidas de que a sua virtude e a sua piedade foram a causa do feliz êxito que DEUS lhe quis outorgar.

444. Pouco tempo depois, ele soube que alguns sacerdotes e levitas, não querendo se sujeitar à disciplina, haviam, por um insolente desprezo às leis de seus maiores, desposado mulheres estrangeiras e manchado a pureza da ordem sacerdotal. Os que lhe deram esse aviso rogaram-lhe que se armasse do zelo da religião para impedir que o crime de alguns atraísse a cólera divina sobre todo o povo e os precipitasse de novo na desgraça da qual acabavam de sair. Como eram de qualidade as pessoas culpadas desse pecado, esse santo homem, considerando que uma ordem para despedir as mulheres e os filhos não seria obedecida por eles, foi tomado de tão viva dor que rasgou as próprias vestes, arrancou a barba e os cabelos e lançou-se por terra banhado em lágrimas. Os outros homens de bem reuniram-se a ele e juntaram as suas lágrimas às dele.

Nessa amargura de coração, ele elevou os olhos e as mãos ao céu e disse: "Tenho vergonha, meu DEUS, de ousar levantar os meus olhos ao céu, quando penso que este povo recai sempre mais no pecado e perde logo a lembrança dos castigos com que punistes a impiedade de seus maiores. Todavia, Senhor, como a vossa misericórdia é infinita, tende, por favor, piedade destes que restaram do antigo cativeiro que suportamos e que quisestes reconduzir à antiga pátria. Perdoai-lhes, Senhor, mais esse crime e, embora eles mereçam a morte, não vos canseis de lhes demonstrar a vossa bondade, conservando-lhes a vida".

Esdras 10. Enquanto assim falava e todos os presentes, homens e mulheres, choravam com ele, Secanias, que era o primeiro cidadão de Jerusalém, aproximou-se e disse que, não se podendo duvidar de que os que tomaram esposas estrangeiras haviam cometido um grande pecado, era preciso convencê-los a restituí-las, bem como aos filhos que delas haviam gerado, e castigar os que recusassem obedecer à lei de DEUS. Esdras aprovou essa proposta e fez jejuar os principais sacerdotes, os levitas e o povo, o qual os ajudaria a obrigá-los a isso. Depois que saiu do Templo, foi para a casa de Joanã, filho de Eliasibe, e passou ali o resto do dia sem comer nem beber, tão abatido estava pela dor. Mandou em seguida publicar por toda parte que todos os que haviam voltado da escravidão deveriam vir dentro de dois ou três meses a Jerusalém, sob pena de serem excomungados e de terem os seus bens confiscados em favor do tesouro do Templo, segundo o juízo que seria pronunciado pelos anciãos.

No terceiro dia, que era o vigésimo do nono mês, que os hebreus chamam tebete, e os macedônios, apeléia, os da tribo de Judá e de Benjamim dirigiram-se à parte superior do Templo, e os principais assentaram-se. Esdras levantou-se e disse-lhes que os que haviam desposado mulheres estrangeiras, contra a proibição da Lei, tinham cometido um grande pecado e que DEUS só tornaria a ser-lhes favorável se as mandassem embora. Todos responderam em voz alta que o fariam de boa vontade, mas o número delas era tão grande e a estação tão contrária, pois era inverno, de frio intenso, que aquilo não podia ser feito imediatamente. Assim, seria necessário um pouco de paciência. Enquanto isso, os principais dentre o povo que estivessem isentos desse pecado, ajudados pelos anciãos, informar-se-iam com exatidão a respeito dos que haviam transgredido a determinação da Lei.

A proposta foi aprovada, e no primeiro dia do décimo mês começou-se a indagação dos que haviam contraído matrimônio ilícito. A investigação durou até quase o primeiro dia do mês seguinte, e vários parentes de Jesua, sumo sacerdote, dos outros sacerdotes, dos levitas e de outros dentre o povo devolveram imediatamente as suas mulheres, preferindo assim a observância da Lei à paixão que sentiam por elas, por maior que fosse. Depois ofereceram a DEUS carneiros em sacrifício, para aplacar-lhe a cólera. Eu poderia citar nomes, mas não julgo necessário. Dessa forma, Esdras remediou o erro cometido por esses matrimônios profanos e aboliu esse mau costume, no qual ninguém mais caiu.

No sétimo mês, que era o tempo de se comemorar a festa dos Tabernáculos, quase todo o povo reuniu-se próximo da porta do Templo, a qual está do lado do oriente, e rogou a Esdras que lhes desse a lei de Moisés. Ele consentiu, e essa leitura durou desde a manhã até a tarde. Eles se foram tão comovidos que derramavam lágrimas, porque aquelas santas leis não somente lhes mostraram o que eles deviam fazer no tempo presente e no futuro, como também revelaram que, se as tivessem observado no passado, não teriam caído em tantas desgraças. Esdras, vendo-os naquela aflição, disse-lhes que se retirassem para as suas casas e enxugassem as lágrimas, pois não deviam chorar no dia de uma festa tão solene, e sim alegrar-se e regozijar-se e aproveitar o arrependimento que demonstravam pelas suas faltas passadas para não cometer outras semelhantes no futuro. 

Essas palavras consolaram-nos, e eles celebraram alegremente durante oito dias essa grande festa, gratos a Esdras pela reforma de seus costumes, e voltaram cantando hinos de louvor a DEUS. Um feito tão importante, somado às outras obrigações de que a nação lhe era devedora, conquistou-lhe tanta glória que quando ele terminou os seus dias, em venturosa velhice, enterraram-no em Jerusalém com grande magnificência. Joaquim, sumo sacerdote, morreu também nesse mesmo tempo, e Eliaquim, seu filho, substituiu-o.

445. Neemias 1. Depois da morte de Esdras, um judeu dentre os escravos, de nome Neemias, que era mordomo do rei Xerxes, passeando um dia fora da cidade de Susã, capital da Pérsia, viu uns estrangeiros que vinham de províncias distantes e percebeu que eles falavam a língua hebraica. Aproximou-se deles para perguntar de onde vinham e soube que eram da Judéia. Perguntou-lhes como ia aquele país, particularmente Jerusalém. Responderam-lhe que tudo estava em muito mau estado, que as muralhas da cidade estavam em ruínas e que não havia males que os povos vizinhos não lhes causassem, pois devastavam continuamente os campos, levavam prisioneiros os habitantes da cidade, e freqüentemente encontravam-se cadáveres pelas estradas.
Neemias ficou tão desconsolado pela aflição do povo de seu país que não pôde reter as lágrimas. E, elevando os olhos ao céu, disse a DEUS: "Até quando, Senhor, permitireis que a vossa nação seja perseguida e torturada por tantos males? Até quando permitireis que ela seja presa de vossos inimigos?" O sofrimento fez-lhe esquecer até o momento em que se encontrava, pois vieram dizer-lhe que o rei estava prestes a se pôr à mesa, e ele correu para servi-lo.

Neemias 2. O príncipe, que estava de bom humor, tendo notado ao sair da mesa que Neemias estava muito triste, perguntou-lhe o motivo. Ele respondeu, depois de rogar a DEUS em seu coração que tornasse as suas palavras bem persuasivas: "Como poderia, majestade, não estar triste pela aflição de saber a que estado se acha reduzida a cidade de Jerusalém, minha querida pátria, onde estão os sepulcros de meus antepassados? Os seus muros estão completamente em ruínas, e as suas portas, reduzidas a cinzas. Fazei-me, Senhor, o favor de permitir que eu vá reerguê-las e de fornecer o que falta para completar a restauração do Templo!"
O soberano recebeu tão bem esse pedido que não somente concedeu o que ele desejava, como também prometeu escrever aos seus governadores para que o tratassem com muita honra e o ajudassem em tudo o que ele desejasse. Acrescentou o príncipe: "Esquecei então a vossa aflição e continuai a servir-me, com alegria". Neemias adorou a DEUS e deu ao rei os seus humildes e sinceros agradecimentos por tão grande favor. O seu rosto tornou-se tão alegre quanto antes estava triste.
No dia seguinte, o rei entregou-lhe as cartas endereçadas a Sadé, governador da Síria, da Fenícia e de Samaria, pelas quais ordenava tudo o que dissemos há pouco. Neemias partiu com essas cartas para a Babilônia, de onde levou várias pessoas de sua nação, e chegou a Jerusalém no vigésimo quinto ano do reinado de Xerxes. Depois de entregar as cartas a Sadé e as que eram endereçadas aos outros, mandou reunir todo o povo e falou: "Não ignorais o cuidado que o DEUS Todo-poderoso teve de Abraão, de Isaque e de Jacó, nossos antepassados, por causa da piedade deles e de seu amor pela justiça. E hoje ainda Ele nos faz ver que não nos abandonou, pois obtive do rei, por auxílio dEle, permissão para reedificar as nossas muralhas e ultimar a construção do Templo. No entanto, como não posso duvidar do ódio que nos têm as nações vizinhas, as quais, quando virem o entusiasmo com que trabalhamos nestas obras, tudo farão para nos atrapalhar, creio que temos duas coisas a fazer. A primeira é pormos toda a nossa confiança no auxílio de DEUS, que pode sem dificuldade confundir os desígnios de nossos inimigos. A segunda é trabalhar dia e noite com ardor infatigável, para terminarmos a nossa empresa sem perda de tempo, pois este nos é favorável e deve ser para nós muito precioso".
Depois dessas palavras, Neemias ordenou aos magistrados que mandassem medir o perímetro das muralhas. Dividiu o trabalho entre o povo, fixou a cada porção um número de aldeias e de vilas, para também trabalharem com eles, e prometeu ajudá-los o quanto possível. Todos animaram-se com essas palavras e puseram mãos à obra. Foi então que se começou a chamar de judeus os que de nossa nação regressaram da Babilônia e da judéia ao país, porque fora outrora propriedade da tribo de Judá.

Neemias 4 e 6. Quando os amonitas, os moabitas, os samaritanos e os habitantes da Baixa Síria souberam que a obra progredia, sentiram grande desgosto, e nada houve que não fizessem para dificultar o empreendimento: faziam emboscadas aos nossos, matavam os que lhes caíam nas mãos e, como Neemias era o principal objeto de seu ódio, deram dinheiro a alguns assassinos, para que o matassem. Procuraram também assustar os judeus com vãos terrores, fazendo correr o boato de que um exército formado por diversas nações avançava para atacá-los. Tantos esforços e artifícios acabaram assustando o povo, e pouco faltou para que abandonassem o empreendimento.

Nada, porém, foi capaz de assustar ou desanimar Neemias. Intrépido em meio a tantas dificuldades, continuou a trabalhar com mais ardor do que nunca e fez-se acompanhar por alguns soldados, para lhe servirem de guardas, não que tivesse medo da morte, mas por saber que os seus concidadãos perderiam a coragem se não o tivessem mais entre eles para animá-los na execução de tão santa empresa. Ordenou aos operários que, no trabalho, mantivessem a espada sempre ao lado e perto de si os seus escudos, para deles se servirem em caso de necessidade. Colocou trombeteiros de quinhentos em quinhentos passos, para dar o alarme e obrigar o povo a tomar logo as armas se aparecessem os inimigos. Ele mesmo fazia, durante toda a noite, a ronda pela cidade. Para fazer o trabalho progredir não bebia, não comia e não dormia, exceto quando obrigado pela necessidade. Isso ele fez não por pouco tempo, mas de forma contínua pelo espaço de vinte e sete meses, que foi o quanto empregaram na restauração das muralhas da cidade. Por fim, a obra foi concluída, no nono mês do vigésimo oitavo ano do reinado de Xerxes.

Então Neemias e todo o povo ofereceram sacrifícios a DEUS e passaram oito dias em festas e banquetes de regozijo, o que causou aos sírios visível desprazer. Neemias, vendo que Jerusalém não estava bastante povoada, induziu os sacerdotes e os levitas que moravam no campo a vir para a cidade morar nas casas que ele mandara construir e obrigou os camponeses a lhes trazer os dízimos (o que eles fizeram com prazer), a fim de que nada os pudesse impedir de se dedicar inteiramente ao serviço de DEUS. Assim, Jerusalém povoou-se, e esse grande homem, após realizar ainda outras coisas dignas de mérito, morreu em idade avançada. Era um homem tão bom, justo e zeloso do bem de sua pátria, a quem ela é devedora de tantos benefícios, que a sua memória jamais há de perecer entre os judeus. (Flávio Josefo - História dos Hebreus - 2004 - CPAD)

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